O rei restabeleceu a sua serenidade. E proclamou por toda a cidade:
“No sétimo dia a partir de hoje, o Príncipe Siddhartha competirá com todos que se destaquem em qualquer que seja o campo (de suas habilidades).”
No dia determinado, todos aqueles que se diziam habilidosos nas artes ou em ciências compareceram ao palácio. Dandapani estava presente, e prometeu sua filha àquele que, de origem nobre ou humilde, fosse vitorioso nas competições que aconteceriam.
Primeiro, um jovem homem, que conhecia as regras da escrita, procurou desafiar o príncipe, mas o erudito Visvamitra adiantou-se à assembléia e disse:
“Jovem homem, tal competição seria inútil. Você já está derrotado. O príncipe ainda era uma criança quando foi colocado aos meus cuidados; eu deveria ensinar-lhe a arte da escrita. Mas ele já conhecia as sessenta e quatro variedades de escrita! Ele conhecia certas variedades de escrita que eram desconhecidas por mim até pelo nome!”
O testemunho de Visvamitra foi suficiente para dar ao príncipe a vitória na arte da escrita.
Então procuraram testar seu conhecimento dos números. Ficou decidido que um certo Shakya chamado Arjuna, que tinha uma ou outra vez resolvido problemas intrincados, atuaria como juiz na competição.
Um jovem homem afirmou ser um excelente matemático, e a ele Siddhartha endereçou uma questão, mas o jovem homem foi incapaz de responder.
“Ainda assim era uma questão fácil”, disse o príncipe. “Mas eis uma que é ainda mais fácil; quem a responderá?”
Ninguém respondeu essa segunda questão.
“Agora é a vossa vez de arguir-me”, disse o príncipe
Eles indagaram-lhe questões que eram consideradas difíceis, mas ele deu-lhes as respostas mesmo antes que tivessem terminado de colocar o problema.
“Deixem que o próprio Arjuna examine o príncipe!” surgiu o clamor de todos os lados.
Arjuna colocou-lhe os mais intrincados problemas, e nenhuma vez Siddhartha deixou de dar a solução correta.
Todos ficaram maravilhados com o seu conhecimento de matemática e se conevenceram que sua inteligência havia explorado a fundo todas as ciências. Eles então decidiram desafiar sua habilidade atlética, mas em salto e corrida ele venceu com pouco esforço, e na luta ele teve apenas que encostar o dedo em seu adversário, e esse cairia ao chão.
Então eles sacaram os arcos, e exímios arqueiros colocaram suas flechas em alvos que eram pouco visíveis. Mas quando chegou a vez de o príncipe atirar, tão grande era a sua força natural que ele quebrou cada arco conforme o vergou. Finalmente, o rei enviou guardas para buscar um muito antigo, muito precioso arco que era mantido no templo. Ninguém que se lembre tinha sido capaz de vergá-lo ou levantá-lo. Siddhartha pegou o arco em sua mão esquerda, e com um dedo da sua mão direita ele o vergou até si. Então ele escolheu como alvo uma árvore tão distante que somente ele podia vê-la. A flecha atravessou a árvore e, enterrando-se no chão, desapareceu. E lá, onde a flecha havia entrado no chão, uma fonte bem formado, a qual foi chamada a Fonte da Flecha.
Tudo parecia estar encerrado, e eles levaram para o vencedor um enorme elefante branco sobre o qual, em triunfo, ele foi conduzido através de Kapilavastu. Mas um jovem Shakya, Devadatta, que era muito orgulhoso de sua força, segurou o animal pela tromba e, por diversão, bateu-lhe com o seu punho. O elefante caiu ao chão.
O príncipe olhou com reprovação para o jovem homem, e disse:
“Você cometeu uma maldade, Devadatta.”
Ele tocou o elefante com o seu pé, e ele levantou-se e prestou-lhe homenagem (reverenciou-lhe).
Então todos aclamaram sua glória, e o ar vibrou com suas aclamações. Suddhodana ficou feliz, e Dandapani, chorando de alegria, exclamou:
“Gopa, minha filha Gopa, orgulhe-se de ser a esposa de tal homem.”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm